Água, a boa utilização desse recurso.

Depois do oxigênio, a disponibilidade de água doce é a condição mais essencial à manutenção da vida terrestre em nosso Planeta. No entanto, a falta de acesso à água potável é uma realidade para mais de 20% da população mundial desde o final do século passado.

 

Essa escassez de água de boa qualidade vem sendo acentuada “a olhos vistos” pelo somatório de dois fatores bem conhecidos: 1º – Pela poluição dos rios, desmatamento das florestas, degradação do solo, má gestão dos recursos hídricos e pelo grande desperdício na agricultura, na indústria e no nosso dia a dia nos últimos 40 anos. 2º – Pelo aquecimento global nitidamente sentido desde o início desse século, onde secas e ondas de calor atingem regiões do mundo todo, incluindo o Brasil __ estudo divulgado pelo centro de pesquisas global Copernicus Climate Change mostra que o mundo teve o setembro mais quente da História em 2020.

 

Fora isso, nos últimos 100 anos, o consumo de água aumentou oito vezes, enquanto a população mundial cresceu quatro vezes. Ou seja, o consumo médio individual dobrou. Porém, nesse mesmo período, poluímos 50% da água doce disponível para o nosso uso. Significa dizer que hoje estamos gastando o dobro de uma fonte que está com sua capacidade reduzida à metade. Não é por outra razão que agora, em 2020, 60% da população mundial sofre com a carência ou racionamento de água de boa qualidade para consumo. E as guerras e disputas territoriais pela água só vem se intensificando.

 

Pode parecer incrível, mas mesmo sabendo da clássica distribuição das águas no Planeta e o quanto a disponibilidade de água doce é restrita __ 97% são salgadas, 2% formam as geleiras e apenas 1% é doce, e dessa água doce somente um terço está disponível __, nós continuamos desperdiçando esse precioso líquido, especialmente no Brasil que detém 10% de toda a água doce do mundo. E, se recebemos tal dádiva da Natureza, esse privilégio torna-se acachapante quando confrontado pela triste estatística da ONU que revela que 80% das internações hospitalares no mundo atual são motivadas pela simples falta de acesso à água potável.

 

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É bem verdade também que o fato de termos água em abundância, e por isso barata, pode ter nos tornado grandes esbanjadores. Nós nos acostumamos a utilizar a água de forma livre e despreocupada, sem nos darmos conta de que seu uso responsável no nosso cotidiano pode proporcionar considerável redução no desperdício. E exemplos não faltam.

 

Tomar banho fechando a torneira ao ensaboar o corpo e os cabelos pode representar uma economia de até 90 litros de água por banho. Da mesma forma que barbear-se fechando a torneira, quando a água não estiver sendo utilizada, pode produzir uma economia de até 10 litros. Sem falar na habitual e dispensável “vassoura hidráulica” utilizada para varrer e lavar as calçadas, onde o uso de uma vassoura normal economizaria até 250 litros de água.

 

Infelizmente, nessa questão da boa utilização da água, não se trata só de ter ou não educação e boa vontade para adotar seu consumo consciente. Para boa parte da população, o uso responsável só virá com mecanismos de punição, como uma conta salgada no final do mês. Diferente da energia e do gás, cujos consumos individuais vêm quantificados na conta mensal da concessionária, permitindo que o cidadão sinta no bolso o uso exagerado (e seu desperdício), a água, na maioria dos prédios residenciais, é cobrada do condomínio numa única conta coletiva. Assim, o uso correto desse recurso só será possível quando todas as residências tiverem seu consumo de água medido por hidrômetros individuais e cobrado em contas separadas.

 

Um grande exemplo vem da Alemanha, onde o custo da água é bem alto e a cobrança individual. Lá, só se costuma puxar a descarga do vaso no banheiro após quatro ou cinco xixis. Substâncias para eliminar o cheiro desagradável da ureia são utilizadas e, é claro, que está se falando de uma atitude extrema, que espero não tenhamos que copiar, mas esse comportamento nos dá a exata dimensão do quão sensível pode ser o bolso do consumidor e o quanto esse mecanismo de punição financeira é eficiente na redução do consumo e do desperdício de água.

 

Reflita sobre esse assunto. Seja consciente e responsável no consumo de água, na sua residência ou no seu trabalho, para que não falte no futuro.

 

 

Sobre Marcelo Szpilman

Marcelo Szpilman, biólogo marinho, é autor de oito livros publicados, sendo cinco nas áreas de peixes, tubarões e outros seres marinhos. É o idealizador, fundador e presidente de honra do AquaRio e diretor-presidente do Instituto de Conservação Marinha.

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