O que neandertais e tubarões têm a ver com empatia e compaixão?

Milhares de anos atrás, em sua trajetória evolutiva, nossos antepassados hominídeos se viram forçados a tratar de questões extremamente importantes para a sobrevivência do grupo, cujos resultados moldaram sentimentos que hoje temos como “humanos”.

No decurso de uma caçada, por exemplo, quando um membro do grupo se feria de forma grave ele simplesmente era deixado de lado para morrer, ainda que a perda de um caçador representasse enorme desvantagem competitiva com os outros bandos pela disputa dos escassos recursos disponíveis.

Esse comportamento mudou quando sobreveio aos nossos antepassados Neandertais a aptidão para se identificar com o outro, sentindo o que ele sente ao se colocar em seu lugar __ emoção que hoje conhecemos como empatia __, e o pesar acompanhado pela vontade de ajudar o próximo que o sofrimento alheio provoca __ sensação emocional que hoje identificamos como compaixão.

A partir daí os caçadores feridos passaram a ser carregados de volta por seus companheiros. Curados dos ferimentos podiam retomar a caça e a defesa de seu território, exercendo importantes funções para a sobrevivência de seu grupo familiar.

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E o que isso tudo tem a ver com os tubarões? Simples. A questão atual de preservação dos tubarões envolve exatamente a falta desses dois sentimentos humanos criados por nossos antepassados: a empatia e a compaixão.

A cada ano que passa, milhões de tubarões são mortos, de forma cruel e insustentável, apenas por suas nadadeiras __ para atender ao mercado chinês de sopa de barbatana __ sem que a maioria da população mundial se comova com tamanho sofrimento.

Em parte, essa atitude é explicada pelos preconceitos gerados por mitos e inverdades, como a injusta acusação de feras assassinas que aterrorizam os mares, que não permitem que a empatia e a compaixão dispensadas às tartarugas, golfinhos e baleias também tenham como alvo os tubarões.

Dessa forma, seres vivos fantásticos, que representam crucial papel ecológico na manutenção do equilíbrio e da saúde dos ecossistemas marinhos, estão desprotegidos e à mercê da gananciosa indústria da pesca predatória que certamente levará dezenas de espécies de tubarão à extinção. Uma perda irreparável com graves consequências para todos nós.

Já é hora de as pessoas aceitarem que os tubarões são seres marinhos que também merecem nossa empatia e compaixão e precisam ser preservados. É fundamental incorporar ao senso comum da sociedade que proteger os tubarões é proteger a vida e a natureza, é proteger a nós mesmos!

 

Sobre Marcelo Szpilman

Marcelo Szpilman é autor de oito livros publicados, sendo cinco nas áreas de peixes, tubarões e outros seres marinhos. É o idealizador, fundador e presidente de honra do AquaRio e diretor-presidente do Instituto de Conservação Marinha.

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